Publicado por: Laboratório de Limnologia/UFRJ | junho 15, 2023

A GEOMORFOLOGIA FLUVIAL COMO UMA ABORDAGEM INTEGRADA PARA A CLASSIFICAÇÃO DOS RIOS

Por Maria Eduarda Cosendey e Isabella Mendanha

O que aspectos da geomorfologia e a limnologia têm em comum? Sempre quando somos questionadas com o que trabalhamos na nossa pesquisa dentro do laboratório, as pessoas tendem a ficar um pouco perdidas com a nossa resposta.

“Estilos Fluviais!”. “Legal, mas o que é isso?”

De forma geral, elas nunca ouviram falar sobre o assunto, mas se mostram bem receptivas para saber um pouco mais do que se trata. E, se você também faz parte dessas pessoas que nunca tinham ouvido falar de Estilos Fluviais, mas ficaram curiosas, que tal aprender um pouco sobre essa linha de pesquisa com a gente?

Os Estilos Fluviais (River Styles) é uma metodologia utilizada para classificar os rios de acordo com suas características geomorfológicas e comportamentais. Essa metodologia leva em consideração toda a história evolutiva do rio, valorizando suas particularidades e entendendo que cada rio é único. Assim, diferentes tipos de rios apresentarão diferentes processos e formas de sensibilidade à mudança.

A metodologia foi desenvolvida por Gary J. Brierley e Kirstie Fryirs na Universidade Macquarie, em Sydney e tem sido utilizada como uma estratégia muito interessante para a gestão de rios na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Índia e no Brasil. Na elaboração de boas técnicas para a gestão de um rio, é necessário entender a condição geomórfica que ele possui, quais são os seus pontos fracos e o seu potencial de recuperação. Com essa finalidade, os Estilos Fluviais oferecem métodos consistentes para a classificação dos rios, com uma série de etapas a serem seguidas para a aplicação das ações de restauração.

Para classificar os Estilos Fluviais, trabalhamos com características locais e regionais, que respectivamente, são aquelas que precisamos ir ao campo para observar, como as características das margens do rio e a granulometria do leito; e aquelas que são analisadas numa escala maior, como a declividade e o clima, através de programas de geoprocessamento (os famosos Sistemas de Informação Geográfica – SIGs). 

A metodologia de Estilos Fluviais é dividida em 4 fases:

Figura 1. Fases da metodologia de Estilos Fluviais. 

Tradução: Maria Eduarda Cosendey. Fonte: River Styles Framework

  1. Caráter e Comportamento do Rio

Esta é a fase inicial, onde cada rio é caracterizado por um conjunto distinto de aspectos, como suas unidades geomorfológicas, material do leito e forma em planta do canal. Nessa fase, queremos saber quais são os processos que ocorrem ao longo do rio, avaliamos os controles regionais e bacias hidrográficas, interpretamos quais são os controles sobre o caráter do rio e buscamos entender o seu comportamento, com a finalidade de mapear os estilos de rios presentes numa bacia hidrográfica.

  1. Condição Geomórfica do Rio

Na segunda fase, nos perguntamos se o caráter e comportamento do rio são esperados para aquele estilo de rio. Se os processos que ocorrem no rio estão fora do comum ou se estão acontecendo de maneira acelerada, por exemplo, o rio é considerado em más condições geomórficas. Para esta fase, precisamos determinar a capacidade de ajuste do trecho e avaliar a história evolutiva do rio (buscando entender se um rio teve alguma mudança irreversível ao longo dos anos), para assim determinar a condição geomórfica do rio.

  1. Potencial de Recuperação do Rio

Essa é a fase em que nos perguntamos: “mesmo com os fatores limitantes e as configurações nesta bacia hidrográfica, podem ocorrer melhorias na condição geomórfica em prazos em que possamos observá-las?”. Para responder essa questão, é preciso entender como o rio se ajustou no passado e como ele pode mudar no futuro. Precisamos avaliar o potencial de recuperação do rio e avaliar os fatores limitantes da recuperação.

  1. Aplicação de Gestão Fluvial

A última fase desta metodologia utiliza todas as informações coletadas nas outras 3 fases para identificar as condições alvo para reabilitação de rios. Nessa fase, ocorre a priorização de certas áreas onde as atividades de restauração provavelmente serão mais bem sucedidas. Além disso, ocorre o monitoramento e auditoria de ajustes na condição geomórfica do rio.

Dessa forma, entendemos que a metodologia de Estilos Fluviais é uma ótima ferramenta para restauração de rios, pois nos permite entender as interdependências que ocorrem entre as diferentes seções do rio, desde sua nascente até a foz, levando em consideração diversas características do rio de maneira hierárquica para a classificação dos seus estilos.

Sobre as autoras:

Maria Eduarda de Castro Cosendey Alves atualmente é aluna de mestrado no programa PPGCIAC, atua na Limnologia UFRJ, orientada pelo Dr. Reinaldo Bozelli e co-orientada pelo Dr. Rodrigo Félix. Sua dissertação possui o título de: ” Grau de suscetibilidade e potencial de recuperação de igarapés amazônicos adjacentes a áreas mineradas na Floresta Nacional de Carajás no Pará”.

Isabella Mendanha Ferreira atualmente é aluna de graduação em Ciências Biológicas (bacharel, com ênfase em meio ambiente) do NUPEM/UFRJ, cujo título da monografia é “Classificação de Estilos Fluviais de trechos de igarapés sob influência de mineração de ferro na Floresta Nacional de Carajás, Pará”, também orientada pelo Dr. Rodrigo Félix. Isabella também atua na Limnologia UFRJ.


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